que ninguém o via.
Dormia sereno,
enquanto crescia.
Sem falar, pedia
– porque era semente –
ver a luz do dia
como toda a gente.
Não tinha usurpado
a sua morada.
Não tinha pecado.
Não fizera nada.
enquanto dormia.
Esterilizado
com toda a mestria.
Antes que a tivesse,
taparam-lhe a boca
– tratado, parece,
qual bicho na toca.
Não teve amanhã.
Não ouviu: "– Querido..."
Não disse: "– Mamã..."
Nunca andou ao colo.
Nunca teve o ensejo de pisar o solo,
pezinho descalço,
andar hesitante,
sorrindo no encalço
do abraço distante.
de sacola ao ombro,
nem olhou estrelas
com olhos de assombro.
à que ele seria,
não brincou com elas
nem soube que havia.
não ouviu os grilos,
não apanhou rãs
nos charcos tranquilos.
vadio que fosse,
a lamber-lhe a mão,
à espera do doce.
e ventos e espaços.
E Invernos e estios.
E mares e sargaços,
e flores e poentes.
E peixes e feras
as hoje viventes
e as de antigas eras.
Não viu a magia.
foi neutralizado
com toda a mestria:
Com as alvas batas, máscaras de Entrudo, técnicas exactas,
mãos de especialistas negaram -lhe tudo
(o destino inteiro...)
César Brandão - 08.02.2007