A SOCIÉTÉ DU MADAL é uma das grandes empresas zambezianas que têm realizado na Baixa Zambézia, distrito de Quelimane, uma muito notável obra de ocupação económica e de colonização em geral. Formaram-se essas empresas - ou, como se diz na Zambézia, «as Companhias» - sobre a deliquescência do secular regime dos «prazos». E pode dizer-se que se formaram por um processo de absorção capitalista da pequena propriedade - os «prazos» - se bem que, realmente, o processo tivesse já começado antes delas, com a reunião de vários «prazos» em grande domínio na posse, ou arrendamento, de um só proprietário. Há que reconhecer que tal absorção foi um bem, uma vez que o objectivo capital dos «prazos» - povoamento, fixação de famílias à terra pela exploração agrícola, pequena ou média - falhara em consequência do absenteísmo dos «senhores de prazos». Assim, a Zambézia, onde, por meados do século XVII, se tentara lançar os fundamentos de uma colonização de povoamento, veio a tornar-se, nos finais do século XIX, um exemplo típico de colonização capitalista. Os resultados foram notáveis. A Zambézia acha-se hoje dotada de alguns dos maiores e mais belos palmares do mundo e foi, até anos recentes, a única região de Moçambique que contava como um real valor económico, sendo hoje ainda um dos mais característicos núcleos da Colónia, pela população, costumes, trabalho e produção.
A Société du Madal estabeleceu-se na Colónia em 1903, montando os seus escritórios na então vila de S. Martinho de Quelimane, na rua que tem hoje o nome de João de Azevedo Coutinho. Instalou-se numa casa que tomou por compra ao conde de Vila Verde, de quem tomou também, por trespasse, o arrendamento dos «prazos» Madal, Tangalane e Cheringone.
Em 1904, a «Madal», como é comummente designada na Zambézia, comprou à Compagnie des Huileries et Savonneries de Moçambique as instalações que esta possuía na actual Rua D. Luiz Filipe e estabeleceu nelas, onde ainda hoje permanece, a sua feitoria. Também, nesse ano, tomou o arrendamento do «prazo» Maindo, por trespasse da firma Correia de Carvalho; e, em 1916, o do «prazo» Inhassunge, de que era arrendatária a firma Ribeiro & Ca, Limitada.
Inicialmente, a razão social era Société du Madal (Gonzaga Bovay & Cie), depois modificada para Société du Madal (Chr. Thams & Cie). Posteriormente, em 1926, adoptou nova designação (Société du Madal - Bobone, Bonnet & Cie), que em 1929, após o falecimento do conde de Bobone e do director geral em África, Theopile Bonnet, passou à actual designação, com a entrada para a firma do cidadão norueguês Thomas Fearnley. A sede social é em Mónaco.
Com os «prazos», cujo arrendamento adquiriu por trespasse, a Société du Madal iniciou a sua exploração agrícola com 70.000 coqueiros. Imprimiu grande desenvolvimento aos palmares, quer nos territórios dos «prazos», cujo arrendamento tomara, quer em novos terrenos que aforou. Assim, o número de palmeiras elevava-se, ao cabo de dez anos, em 1913, a 240.000. Em 1923 era de 500.000, em 1933 de 720.000 e em 1943 de 807.300. Presentemente, atinge cerca de 840.000.
(...) As plantações não ocupam uma área contínua. Distribuem-se pelas áreas da sede do concelho de Quelimane, do posto administrativo de Inhassunge, na margem direita do rio dos Bons Sinais, e do posto administrativo de Micaúne, no concelho do Chinde, margem esquerda do Zambeze. Estão repartidas por vinte e sete estações agrícolas, à testa de cada uma das quais se acha um empregado europeu, português, com um auxiliar, natural de Quelimane, assimilado. Por essas vinte e sete estações distribuem-se trinta e uma estufas para secagem e fabricação da copra, construídas em alvenaria, quarenta e sete bebedouros para gado, com as respectivas bombas, e onze tanques carracicidas. E em cada estação existem habitações dos empregados, várias dependências e armazéns.
De modo geral, todas as plantações foram precedidas de grandes trabalhos de derruba, que mobilizaram enormes contingentes de mão-de-obra indígena, visto como o emprego de gado era, então, impraticável pela abundância da tsé-tsé. Os regulamentos de trabalho indígena que então vigoravam, relacionados ainda com a antiga e tão interessante instituição secular dos «prazos», permitiam um recrutamento fácil e copioso de trabalhadores.
Embora os números que atrás se apresentam traduzam um apreciável e constante desenvolvimento das plantações, é de notar que a actividade da empresa atravessou fases de adversidade, sem as quais o progresso teria sido bem mais acentuado. Assim, por exemplo, a campanha da Grande Guerra exigiu a saída de milhares de trabalhadores que os arrendatários dos «prazos» tinham de fornecer para carregadores. Os trabalhos agrícolas foram reduzidos para um rigoroso mínimo e o restabelecimento da actividade normal, uma vez a campanha terminada, foi longo e difícil.
Em 1930, após anos de instabilidade dos mercados e das cotações, pronuncia-se, até quase o pânico, a queda da cotação da copra. Os palmares zambezianos foram, por isso, profundamente afectados. Trabalhos já em decurso e projectos de ampliação das explorações tiveram de ser suspensos e a actividade das empresas restringiu-se a simples trabalhos de conservação.
(continua...)
Adorei a explicaçao clara e objectiva ,o texto me ajudou bastante
ResponderEliminarO meu avo era amigo do Teofil Bonnet, e foi trabalhar para a Nadal em 1930s.
ResponderEliminarObrigada pela explicacao!
o meu pai bernardo firmo trabalou em cha madal tacuane, no escritorios de recrutamento de mao de obra. obrigado madal
ResponderEliminarO meu avô paterno, José da Cunha, foi um dos administradores da MADAL, no tempo do Conde Bobone de quem era amigo, tendo vivido em Quelimane até cerca de 1936 / 37. O meu pai, nascido em 1924, também aí passou parte da sua meninice, embora tenha estado a maior parte do tempo num interno num colégio inglês em Bulawayo.
ResponderEliminaro meu pai Bernardo Firmo em 1968 foi trabalhar na Cha Madal em Tacuane, que saudades daquele paraiso
ResponderEliminaraquelas subidas de namadowe, murepa os carros n tempo chuvoso eram rebocados d tractor, tinha ali o rio mugwe, mulobozi para que fosse ao limbwe a piscina do Bobone nos encostas do monte mabu, quase que era nosso nas ferias eramos permitidos ir nadar ali....estou no moz mas a chorar pela Madal
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