quarta-feira, dezembro 06, 2006

CANTO DA POESIA: - Poema para a Negra

Província do Namibe, antiga Moçâmedes
Jovem do grupo dos Cuvales, correntemente designado por Mucubais
(povo nómada vivendo da pastorícia)

POEMA PARA A NEGRA*

Deixa que os outros cantem o teu corpo
que dizem feiticeiro e sedutor,
e, na volúpia vã do pitoresco,
entoem madrigais à tua dor.

Deixa que os outros cantem teus requebros
nos passos de massemba e quilapanga,
e teus olhos onde há noites de luar,
e teus beiços que têm sabor de manga.

Deixa que os outros cantem os teus usos
como aspectos formais da tua graça,
nessa conquista fácil do exotismo
que dizem descobrir na nossa raça.

Deixa que os outros cantem o teu corpo,
na captação atónita do viço
e fiquem sempre, toda a vida, a olhar
um muro de mistério e de feitiço...

Deixa que os outros cantem o teu corpo
- que eu canto do mais fundo do teu ser,
ó minha amada, eu canto a própria África,
que se fez carne e alma em ti, mulher!

*- VÍCTOR, Geraldo Bessa. Obra poética. Escritores dos países de língua portuguesa. Lisboa: INCM, 2001.

Natural de Luanda, Geraldo Bessa Victor nasceu em 1917, vindo a falecer em Lisboa no ano de 1990. A sua poesia desdobra-se por várias obras publicadas, tais como Ecos Dispersos, 1941; Ao Som das Marimbas, 1943; Debaixo do Céu, 1949; Cubata Abandonada, 1958; Mucanda, 1964; Sanzala sem Batuque, 1967 e Monandengue, 1973.

domingo, novembro 26, 2006

IRMÃOS SOMOS...

  • Abraçando a emoção na face das luzes, faz já tempo, imagine-se um ano, que a lucidez da inconsciência foi percorrendo os degraus incertos da inspiração. Puro exercício consumido à margem do fruto dos eleitos, esse mesmo em que cada gomo alimenta a palavra sublimando o verso.

  • Apesar de tudo, "Irmãos Somos..." aqui recordo, até porque hoje, teimosamente, persistem nuvens de desassossego. E, mesmo que a cinza se adense nos olhos, sejamos então sentinelas do inconformismo e intrépidos a rolar, perseguindo a esquiva claridade que no horizonte vai sustentando miragens do paraíso.

domingo, novembro 12, 2006

GORONGOSA - na peugada da magia

Vários documentários sobre o renascer do


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quarta-feira, novembro 01, 2006

MILANGE - um olhar de saudade

Selecção de imagens que integram o álbum


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sábado, outubro 28, 2006

O COIRO REDONDINHO


O cenário repousa nos tempos idos e – vá lá saber-se porquê – alfinetou o intérprete, então destemperadamente suspenso em bazófia arregaçada, insinuando artifícios para pelejar o coiro redondinho. Porventura ofendido, ou a lamentar que até uma forma quadrada não merecia o rude pontapé de tamanco tão tosco, escapa-se o dito em desatinado voo.
Na sua trajectória, aflito, encolhe-se o adversário. Colegas de armas petrificam-se com a facécia e o homem do apito, de ganga camuflado, interroga-se que raio de disputa arbitra.
O guardador de redes, distraído a perscrutar o Mondego que, indiferente, ao lado voga mais interessado em refrescar amores no Choupal, já tarde desperta para o projéctil a ziguezaguear em fúria. E sente o frémito de redes agitadas amparando, finalmente, aquele coiro maltratado.
Rendida a tamanho paio, cantarola a tribo agitando tachos.

Ora, na santa terrinha, garantem os entendidos que a peleja se modernizou, reivindicando estatuto de vanguarda: - engalanaram-se arenas de lustre a preceito, amestraram-se as tácticas, empresários credenciam artistas e napoleónicos generais projectam os pontos primeiro que os tentos porque, no cálculo, são os números que alimentam a bolsa e não os frémitos de redes tontas.

E o Zé, se bufa olhando a carteira mirrada de taco, logo enfuna a paixão, largando o pilim que o espectáculo promete.

Ai promete, promete…

É vê-los então à escovinha, de trança esticada ou poupa colorida, senão mesmo de tola rapada, imperialmente garbosos na fibra vitaminada.

Para a história decantaram-se a tamancada e a farpela enrugada. A fatiota reluz em fina costura e até as cores acompanham os ditames da moda. E, neste dinamismo, os andamentos requerem pumas, adidas e outras biqueiras, sendo que as guitas já aguardam registo de marca.

Sem dúvida, um esplendor na relva a reclamar nova e aprimorada versão, desde logo candidata a todos os Óscares.

Pois claro! E o coiro redondinho?
Qualquer semelhança só na forma: - sem pinta de vestígio animal e untá-lo com vela de sebo nem pensar!
O danado, a milagrosos transplantes sujeito pela mais avançada tecnologia, imitando atributos de refinada silicone, exibe-se rechonchudo, desafiando as capacidades de qualquer biqueira para lhe estoirar o verniz ou as estrias.

E logo as claques agigantam-se, gritam outros amores e ali finta o artista que corre, mais além finta-se, senão quando a todos finta, rebolando-se…
Perante impropérios bacocos, pateadas e outras vilanias, alguns predestinados mandam calar a plateia, havendo mesmo os que, na tesura do ego, disparam o dedinho, qual soberbo falo a emprenhar o ar.

Publicitando a ERA, moderna e atractiva, anda o homem do apito, de bandeira em riste os tira-linhas.
Palmas a tais figuras são expressamente proibidas, valendo apenas elogios à maternidade, o sorriso malandro e o alvitre para uso de óculos com telescópio e mira. Apesar do luxo, pena que a tecnologia ainda não se preocupe a satisfazer tal devaneio.

No ambiente que aquece, o espectáculo não acaba sem ensaio de comício: - flamejam discursos, disputam-se razões e, furtiva ou ousadamente, acontece a batatada. São os momentos de patética glória.

Ao dissipar-se a refrega sob a fumaça que vagarosamente se eleva, eis que redes se agitam, não de frémito, mas sim tontas a suspirar pelo dia em que irão saciar-se na beijocada com o rechonchudo coiro.

Já agora, a pretexto do alfinetado intérprete, o escrivão da crónica vai cogitando que o citado, inábil a assimilar requintadas guloseimas, é bem capaz de continuar enamorado pelo bacalhau dos Magriços ou, quando a crise aperta, de privilegiar o vulgar tremoço dos Patrícios.

César Brandão - 27.10.2006

quarta-feira, outubro 25, 2006

GURUÉ - Cantos e Encantos

Selecção de imagens que integram o álbum


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quarta-feira, outubro 18, 2006

GURUÉ - Memórias Na Paisagem

Situada na Alta Zambézia, a região do Gurué exibe uma paisagem profundamente marcada pela cultura do chá, implantada em superfícies onduladas dos relevos suaves e periféricos do sistema montanhoso envolvente, dotado de afloramentos rochosos dominantes, atingindo a máxima expressão no Namuli, com 2.419 metros de altitude.

A cultura do chá foi introduzida em Moçambique nos primórdios do século passado, sendo responsável pelos primeiros ensaios a Empresa Agrícola de Lugela, localizada na zona fronteiriça de Milange.

Perante os promissores resultados, foi encetado o fomento da cultura em regiões com condições de altitude e de precipitação favoráveis, operando-se a sua expansão, para além de Milange, nas áreas de Gurué, Tacuane e Socone.

O êxito alcançado com a adaptação da cultura no Gurué determinou um progressivo crescimento da área plantada, responsável por uma galopante mudança da paisagem, guindando a região para um protagonismo paisagístico de eleição e uma vitalidade económica do sector do chá sem precedentes em Moçambique.

Nomes como Junqueiro, Felizardo, Farinha, Ribeiro ou Duarte, entre outros, identificam figuras que marcaram o tempo desta gesta pioneira que da memória se sorve quente, bem quente, na justa dimensão da grandeza dos sonhos e da nobreza da obra.

Cumpre pois à narrativa, na força da sua autenticidade, como é o caso de Coisas Novas de Sempre, elucidativo texto em tempos escrito por Maria do Carmo Abecassis, perpetuar a imagem daqueles que a morte suplantaram.
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terça-feira, outubro 10, 2006

PUXA VIDA!

O sentimento africano que orgulhosamente transpiro suscita-me a obrigação de melhor compreender tantos percursos projectados em cenários à margem da ribalta e, mesmo assim, quantos deles eivados de altruística luta, merecedores pois de reflexão e apreço.
E porque a fortaleza do espírito assenta também na prevalência dos valores cultivados no supremo teatro em que se protagoniza a vida, da costa que respira chuabo à lomué montanha peregrino o meu fascínio pelas terras da Zambézia onde testemunhos intocáveis, arduamente talhados pelo estoicismo humano, moldaram identidades a determinar admiração.
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domingo, outubro 08, 2006

sábado, setembro 30, 2006

MEMORIAL DE QUELIMANE: I - Rio dos Bons Sinais


E foi que... passada a costa de Sofala, ora afoita em mar alto toda a armada, o leve leme de cada nau a proa inclinou, alvoraçando-se o coração já desesperado e que tanto fiou dum fraco pau:
- lá, aonde a terra bem se avistava, um rio saía ao mar aberto, havia pessoas que sabiam navegar... fluindo sinais que fortaleceram a esperança imensa de achar a rota certa para a Índia.
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quinta-feira, setembro 14, 2006

AURORA EM INHASSUNGE... (ou um certo elogio do passado)


A minha expressão da alma flutuando no tempo, como se fosse num amplo rio, ancora em Inhassunge, um lugar situado na margem onde repousam parte das próprias raízes e que, ao interpretá-la, a faz fluir contemplativa.
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terça-feira, setembro 12, 2006

SOBRE O PAQUETE MOÇAMBIQUE - ( Parte II )

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Entretanto, pesquisando na INTERNET, algumas referências alusivas a este paquete foram encontradas. A seguir identifico as descrições que considero mais sugestivas:

  • Em MEMÓRIAS 1, Telémaco A. Pissarro, evocando a viagem do início do seu desígnio africano por terras de Angola, assim descreve:
    (…)
    Embarquei em Junho de 1951 no navio Moçambique rumo ao Lobito. A terceira suplementar era no porão abaixo da linha de água junto das viaturas dos passageiros, separados apenas por um separador de rede de arame forte. Dormíamos em camaratas e beliches. Logo à saída da barra o mar estava com muita ondulação e o pessoal enjoou vomitando. Na camarata havia um cheiro a vómito desagradável. Um angolano preto que estava por baixo da minha cama até chegou a vomitar sangue.
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segunda-feira, setembro 11, 2006

SOBRE O PAQUETE MOÇAMBIQUE - ( Parte I )


À semelhança de muitos outros, também meus pais rumaram a África. Assim, Moçambique, no final da década de 40 do século passado, foi o destino para uma permanência por terras da Zambézia que perdurou até 1974, tendo esta vivência determinado o nascimento de todos os filhos em Quelimane.

Na época, as raras vindas a Portugal aconteceram apenas para gozo dos períodos de férias, por regra com um intervalo de frequência nunca inferior a quatro anos.

Até meados dos anos 60 as viagens foram invariavelmente efectuadas por via marítima, circunstância que possibilitou uma identidade com alguns dos paquetes que então operaram nessas rotas.
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domingo, setembro 10, 2006

DE MIM PARA MIM


As árvores crescem belas,
Esperam sempre a Primavera
Para transmitir o sentir
Do que importa viver;
Tão áureo é o seu equilíbrio
Que alguém registou um dia:
"Mesmo quando morrem
Não deixam de estar em pé".

Confesso que a coabitação com as memórias da adolescência tem constituído um exercício com acrescida relevância. Uns logo retorquirão que se trata de ocupação inútil em mente vã, outros ainda irão advogar que sintomas de senilidade estão perigosamente a minar meio século de vida entretanto vencido. E, reconheço, todos sustentarão razões iniludíveis sobre os méritos do comportamento perfilado no hoje e no amanhã – abençoadas mentes que, por vezes, até induzem a crer que o céu deixou de ser o limite.
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