domingo, setembro 10, 2006

DE MIM PARA MIM


As árvores crescem belas,
Esperam sempre a Primavera
Para transmitir o sentir
Do que importa viver;
Tão áureo é o seu equilíbrio
Que alguém registou um dia:
"Mesmo quando morrem
Não deixam de estar em pé".

Confesso que a coabitação com as memórias da adolescência tem constituído um exercício com acrescida relevância. Uns logo retorquirão que se trata de ocupação inútil em mente vã, outros ainda irão advogar que sintomas de senilidade estão perigosamente a minar meio século de vida entretanto vencido. E, reconheço, todos sustentarão razões iniludíveis sobre os méritos do comportamento perfilado no hoje e no amanhã – abençoadas mentes que, por vezes, até induzem a crer que o céu deixou de ser o limite.

Mas, julgo que irremediavelmente, um passado reclama o seu lugar. E acena-me, ora ondulando em planície de confins etéreos onde jazem sonhos, ora recriando telas a desafiar um remate, mesmo que pungente ou rude. Inevitável a viagem, sem fim determinado, nesta planura que me envolve e persiste em resguardar insondável mistério, porventura seu baluarte de sobrevivência.

Contento-me agora em acreditar que, mais que filha, afinal essa mesma planície nunca deixou de ser o chão da natureza que, contemplando o mundo já louco para atingir o topo da montanha, silenciosamente vai assegurando o seu processo de renovação. Finando-se no tempo escolhido, na sua filha despoja a vestimenta que, mesmo já matéria morta, confia para manto protector da descendência que, numa qualquer aurora da estação do crescimento, emerge com todas as cores do arco-íris, sugerindo-me que o paraíso pode estar ao nível dos pés e não à altura da cabeça.

E, surpreso, proclamo: - maravilhosa planície que me faz sentir fruto na árvore que a semente gerou, mesmo que só resistindo enquanto perdurar a raiz.

1 COMENTÁRIO(S):

  1. César !
    Agora " DE MIM PARA TI ", os meus Parabéns!
    Tudo o que escreves nos transmite, o teu sentir de uma forma simples, ordenada , calorosa e que aos nossos olhos nos fazes relembrar ,o viver de tempos passados mas sempre presentes nas nossas vidas.
    Força Amigo, nesta tua caminhada.Virei sempre visitar-te.
    Beijinhos
    da sempre amiga
    Luísa Lopes

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