quarta-feira, outubro 24, 2007

MEMORIAL DE QUELIMANE: IV - O Elemento Alegórico

Porventura tocado pelo primor das formas ovais quando a inspiração deambulou pelos labirintos da concha, o artista arquitectou os contornos e lá, no recinto da extinta Feira das Actividades Económicas da Zambézia, destinaram-lhe recanto em chão raso, tendo por companheiro o agreste cacto.

Em noites engalanadas de distantes Agostos fulgiu em distinta alvura, tornando feéricos frutos do mar que mãos esculpiram.

Em 1975, quando o espaço começou a evidenciar os primeiros sinais de mudança, meu irmão José Luís descobriu-lhe a singular graciosidade e a irreverente adolescência apelou ao simulacro do voo planado da águia. Talvez já comprometido por sintomas de nostalgia, o amigo Monteiro não disfarçou um olhar ausente.

Em 2007, nas suas aventuras em Quelimane, Lara Bratcher e Kevin Harvey surpreendem-se com aquela área que continua, afinal, a ser palco de feira... mas agora onde tudo serve para negociar.

Enquanto vagueiam Lara não resiste a saborear a água do coco e, como que por magia, protagoniza um reencontro inesperado: - eis então a bonita jovem sentada no elemento que teimosamente sobreviveu no tempo.

Subtraíram-lhe a fluorescência e a brancura corroeu-se na agrura dos anos mas, que importa... por um momento Lara rejuvenesceu-lhe as formas e inundou-o de colorido!



César Brandão - 22.10.2007



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