quinta-feira, maio 08, 2008

ARCENIO - cantor moçambicano

Arcenio de Almeida é natural da Zambézia e o seu percurso artístico ultrapassou há muito as fronteiras do seu país.

Autor, compositor e intérprete, privilegia o canto em chuabo e tem permanecido fiel às músicas tradicionais de Moçambique.

Casado com uma francesa, em Março de 2004 chegou a França preparando então seu primeiro trabalho individual, culminado no lançamento do álbum Djay, em Junho de 2005.

No início de 2006 o cantor reúne vários músicos e um coro com 4 vozes femininas, iniciativa determinante para a constituição da sua banda musical.
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domingo, abril 27, 2008

BAPTISMO EM MOÇAMBIQUE - uma nota a rufar

Baptismo em Moçambique pormenoriza a aventura cinegética protagonizada por um grupo de espanhóis. De contornos semelhantes a tantas outras ocorridas em África, mesmo assim despertou particular atenção e inevitável relevância pela simples coincidência de o teatro dos acontecimentos descritos se situar na zona de Micaúne, um dos postos administrativos que integram a divisão territorial do distrito do Chinde e aonde, já em meados da década de 50 do último passado século, vivi os primeiros anos de infância.

Apesar da relativa proximidade a Quelimane, capital da Zambézia, recordo que as acessibilidades, assentes numa rede viária rudimentar e sujeita a forte instabilidade durante a época das chuvas, sempre constituíram um factor de constrangimento a potenciar o isolamento daquela região.
Todavia, nem por isso Micaúne deixou de conquistar, na época, uma posição destacada no sector primário, detendo mesmo uma actividade pecuária extensiva geradora de significativo contributo económico e, fundamentalmente, uma invejável e florescente exploração do palmar liderada pela Madal, uma das companhias majestáticas implantadas na Zambézia.

Arrendatária, entre outros, do antigo Prazo Maindo e consolidando a posse de inúmeras áreas envolventes ao mesmo, a Madal dispunha então da maior mancha de palmar ordenado na zona, estruturalmente designada por 3ª secção, com sede em Micaúne.

O modelo de gestão adoptado promoveu a orientação e o controlo das plantações a partir de diversas unidades de produção, estrategicamente construídas ao longo da área ocupada pelo palmar e designadas por estações, sendo todo o coco canalizado para aquelas e aí sujeito às operações de elaboração da copra.
Saindo de Micaúne, em direcção a Mitange e à orla marítima, pontificavam as estações de Muio e da Barra, precisamente as que foram alvo da minha permanência.
Rumo ao Chinde, já no sentido sul e próximo do mais importante aglomerado comercial de Micaúne, situava-se Magodo como última estação, aí tendo residido a família Fonseca e um dos primeiros amigos de infância – Luís Fonseca.


Meio século decorrido, Baptismo em Moçambique estimulou o retorno a memórias longínquas e já adormecidas e, por um momento, a nostalgia deambulou pela praia da meninice, Barra de seu nome, majestosa na brancura de fina areia e eterna princesa de fascinante horizonte azul onde o insinuante Índico jamais deixou de reinar.
Mas a narrativa também resultou chocante por deixar transparecer uma realidade incontornável: - pese o isolamento, a região da minha infância ainda não conseguiu alicerçar um nível de sustentabilidade seguro e estimulante para projectar um futuro melhor para as suas gentes.

Entretanto, enquanto na savana se resguarda e aprimora um reino selvagem que prossegue em hercúlea sobrevivência, faz já tempo que no palmar tombaram as cercas de “macubar”, retiro nocturno das bestas que mugiam.
Erectos espiques vão definhando, frágeis à moléstia que persiste, implacável a dizimar inconfundíveis copas.
E os caminhantes vagueiam por picadas poeirentas, já vazias de “cafurro” que o tempo consumiu. Confidenciam em “maindo” mas é o cúmplice eco do batuque que lhes exulta o espírito.
Afinal… a vida continua!

César Brandão - 27.4.2008
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Macubar - extenso e duro pedúnculo que sustenta a fronde do coqueiro, aproveitado para vários fins, nomeadamente na delimitação de recintos onde o gado ficava confinado para pernoitar no seio do palmar
Cafurro - designação dada ao tegumento, invólucro rígido do coco que reveste a amêndoa, componente branca que extraída e sujeita a secagem origina a copra
Maindo - dialecto local, preponderante entre as formas de expressão vigentes
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sexta-feira, março 28, 2008

BAPTISMO EM MOÇAMBIQUE - (Parte IV)

POVOAÇÕES AUTÓCTONES

Quase cumpridos os objectivos cinegéticos, decidimos fazer uma pausa e visitámos uma praia no oceano Índico. Foram quatro horas de ida e outras tantas de volta. Vimos vários povoados míseros. Cabanas realizadas com folhas de palmeira ou com ladrilhos de adobe, circulares ou rectangulares, de uns 10 metros quadrados, com um pequeno pátio rondando os 6 metros quadrados. Não há água corrente, nem electricidade, nem saneamentos, nem latrinas. Nada de nada. Mulheres jovens com olhar triste, serenas e resignadas com várias crianças à sua volta, que saudavam sorridentes à nossa passagem. E sempre com alguma às costas, à maneira de mochila.
Passámos por uma plantação de coqueiros sob orientação de um português que, junto à sua mulher, nos convidou a tomar café. Contaram-nos que ali aguentaram toda a revolução e pensavam ficar para sempre. Os coqueiros dão até 12 colheitas por ano. Os naturais vivem disso, para além da mandioca e das batatas. Todos têm a malária.
No trajecto não nos cruzámos com qualquer veículo a motor. Só pessoas andando, uma ou outra bicicleta e um par de carros de bois. Vimos vários estudantes com uniforme que iam andando para a escola e mulheres com volumes à cabeça. Ao passar algumas ofereceram-nos pescado recém-capturado.

Na praia descascaram dois cocos tenros e bebemos a sua água. Estavam um pouco quentes, o que foi uma pena porque o sabor era uma delícia, muito diferente do que conhecemos aqui. Tomámos banho numa imensa praia, com areia branca e finíssima e água cristalina e quente.


FACOCERO

No dia seguinte, terça-feira, 13 de Setembro, saí com Ángel, na companhia de Walter, como caçador profissional, que não tinha nada que ver com Alain: - sério, alto e atlético, de uns 55 anos, cabelo curto com aspecto de operacional e grande conhecedor da sua profissão.
Ángel levava a sua Ruger 416 Rygby e com ela disparou e cobrou um magnífico cabrito do mato para a seguir, numa espécie de perseguição a grande velocidade pelo campo com vegetação muito alta, e após uma travagem, disparar sobre um Bush-pig, cobrando-o à segunda tentativa. Posteriormente caiu um bom facocero.
Almoçámos no acampamento e a tarde foi dedicada a recuperar o búfalo que Ángel tinha ferido no dia anterior. Fomos em coluna, Walter, Ángel, a mulher do profissional, dois batedores, um carregador e eu com a 375 H&H. Penetrámos numa zona de bosque, o mais silenciosamente possível, com uma imensa sensação de perigo já que o búfalo ferido podia estar a vigiar-nos.
Após várias horas abandonámos a busca, considerando-o por perdido. Dias depois, localizado pelos abutres, foi encontrado morto. Um bom troféu que Ángel acrescentará aos que já tem no seu pavilhão.

Regressámos à viatura e por volta das 17,30 horas, quando o sol se punha, na mata brava alta e a uns 100 metros, vimos um bom facocero. Só se via praticamente os seus grandes colmilhos. Encarei-o, dirigi a cruz para onde deveria estar o codilho e disparei, ali ficando sem necessidade de remate.
O facocero ou javali africano – warthog, está muito espalhado por toda a África sub-sariana. Encontram-se em grupos familiares de macho, fêmea e várias ninhadas, ainda que muitos dos velhos sejam solitários. Repousam durante as horas de calor, alimentando-se ao anoitecer. Dormem em esconderijos nos quais entram recuando para conseguirem defender-se. Habitualmente silenciosos, têm um ouvido e um olfacto muito apurados. É um troféu mais apreciado pelo caçador espanhol que pelo americano.
Nessa noite, depois do jantar, reunimos todo o pessoal do acampamento para lhes dar a regulamentar gratificação.

Pela tarde chegou a Barón, com um grupo de sul-africanos que iam caçar búfalos com arco. Às sete horas da manhã do dia seguinte iniciámos o regresso. Sobre a cabeça, os carregadores levaram o nosso equipamento até à avioneta. O terreno estava enlameado, mas descolámos sem problemas rumo à Beira. É uma cidade maior e com melhor aeroporto, ainda que com escasso tráfego.
Reiniciámos o voo até Polokwane para ajustar contas, e dali para Joanesburgo aonde partimos no Airbus 340, da Ibéria, chegando a Madrid às 6,50 horas.

Esta foi a história de um outonal baptismo em que actuaram, como padrinho o meu amigo Sr. Caçador de León, e como testemunhas os Srs. Catalán Doshijos e Román La Seca.
E assim acabou a minha primeira e emocionante experiência cinegética, da qual guardo uma recordação indelével.

Era sábado, 17 de Setembro.
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