sexta-feira, abril 13, 2007

MEMORIAL DE QUELIMANE: II - ZALALA, utopia renovada

A norte, onde Pebane porfia em ostentar paraísos que as dunas resguardam, sobressalta-se a vista e o pensamento eleva-se sob o brilho estelar, círio da linguagem nocturna dos batuques despertos.
Dialoga-se com o firmamento que galvaniza anseios de aventura e já salpicos de mar agigantam a ousadia para morder confins distantes.
Insaciável e competindo com índicas rebeldias, logo delira o espírito que célere navega na conquista de esplendores selvagens que, lá bem para sul, explodem em “tandos” de luxúria que o Zambeze fecunda.
De permeio sorve-se os bons sinais dos rios coleantes que eternizam presságios de rara beleza, e na fronteira de lânguidas casuarinas, onde o palmar soçobra, eis que Zalala emerge, imponente e irresistível, contagiando os sentidos que se libertam em dança.


A ânsia das ondas orquestra então o fascínio que sustenta a perenidade da quimera na memória oculta da boa gente, quando logo horizontes entronizam rubros crepúsculos, cúmplices mensageiros de luas clandestinas que abençoam cânticos dos amantes. E a alma geme tacteando a peugada que as sombras de divas ladeiam.


Qual fogueira que resiste como o eterno rebentar da espuma entregando-se à febre da cálida areia, um palpitar vagabundo alenta agora o ritmo que incendeia paixões que só húmidas madrugadas amornam.
Apenas o tempo silencia as emoções vividas mas a nostalgia apruma-se, assim renovando-se a utopia que o lenho enfeitiçou com a sua água.


César Brandão - 13.04.2007

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