terça-feira, maio 08, 2012

AS ILHAS PRIMEIRAS - (Parte I)

Relato (abreviado) de António de Figueiredo Gomes e Sousa, publicado em:
MOÇAMBIQUE - Documentário Trimestral
Nº 76 - Outubro/Novembro/Dezembro - 1953
Páginas 49 a 71

Não raro, uma das facetas mais interessantes das ilhas é a sua flora, composta, por vezes, exclusivamente de plantas oriundas de outras regiões, que as correntes marítimas transportaram no decorrer dos séculos. Foi essa faceta que me levou a visitar as Ilhas Primeiras, certamente o mais curioso grupo de ilhas moçambicanas, por ser o mais afastado da costa.
No dia 5 de Novembro do ano de 1952 embarquei, em Lourenço Marques, no rebocador Revuè, da Beira, o qual seguia para Quelimane, onde fundeou a 9. Naquele porto tomei o rebocador Chaimite, que andava ocupado no serviço de reconstrução dos faróis das ilhas do Fogo e Epidendron. Depois de curta demora no porto de Pebane, para abastecimento de água, o Chaimite soltou rumo para a ilha do Fogo, em frente da qual fundeou no dia 11, à tarde.
O presente trabalho representa unicamente uma simples notícia do aspecto geral das Ilhas Primeiras.

As Ilhas Primeiras são cinco: Silva, Fogo, Coroa, Casuarina e Epidendron, formando uma linha sensivelmente na direcção nordeste-sudoeste.
O nome de Primeiras foi posto, segundo parece, por João de Lisboa, talvez na ocasião da viagem de Vasco da Gama em descobrimento do caminho marítimo para a Índia, de cuja armada foi o piloto principal, e, certamente, por serem as primeiras que encontrou na sua rota ao longo da costa de Moçambique.
As Ilhas Primeiras são desertas. Os seus faróis - do Fogo e de Epidendron - são de iluminação automática e, por tal motivo, não têm faroleiros. De seis em seis meses vai lá um navio levar o combustível, verificando-se nesse momento o seu funcionamento.
Recifes de coral que o mar deixa a descoberto na vazante servem de base a estas ilhas. A parte emersa, ou seja a areia que o mar deposita na preia-mar, ocupa somente uma parte mui restrita da orla norte dos recifes. Ao mesmo tempo que, por um lado, o mar deposita a areia, por outro arrasta-a, de modo que a forma das ilhas está sujeita a constantes alterações. Foi esse o motivo que tornou necessária a construção dos novos faróis.
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segunda-feira, abril 30, 2012

segunda-feira, abril 02, 2012

II - A SOCIÉTÉ DU MADAL - (Fearnley, Bobone & Cie)

(...conclusão)

O problema do gado para trabalho e adubação tem sido vivamente sentido nos palmares zambezianos, (...). A Société du Madal que possuía, em 1913, apenas 250 cabeças conta hoje à volta de 8.000. Um dos seus grandes trabalhos foi a derruba completa da famosa floresta do Zalale, trabalho que ficou concluído em 1935 e satisfez uma das grandes aspirações da empresa. Hoje, onde foi a floresta do Zalale encontra-se uma bela plantação de coqueiros com mais de 50.000 plantas, e o gado tem aí um lugar seguro e limpo do perigo da mosca.

(...) Várias tentativas tem feito a Société du Madal para a introdução de outras culturas nas suas terras. Algumas dessas tentativas foram dirigidas por técnicos que a empresa expressamente contratou para tal. Os resultados não foram, todavia, encorajadores, e a «Madal» dedicou-se quase exclusivamente à cultura do coqueiro, cujo aperfeiçoamento lhe tem merecido atentos cuidados. Para alguns estudos, designadamente das doenças do coqueiro, contratou especialistas. A escolha dos adubos, quer de origem química quer de natureza vegetal, mereceu-lhe, também, particulares atenções, importando e ensaiando diversos - para concluir que é ainda, afinal, o proveniente dos gados que proporciona mais vantajosos resultados.
Nas plantações, o sistema de distribuição de plantas adoptado é o de rectângulos e equidistâncias de 10 metros. 
O enxugo das terras foi outro problema que a «Madal» teve de resolver, tanto mais que os seus terrenos se acham em regiões baixas e alagadiças, na bacia do Zambeze. Foram abertas extensas valas de drenagem, sobre alguns milhares de quilómetros, com ligação a canais, mucurros e rios próximos. Assim, não só se obteve melhor aproveitamento das terras, como se realizou apreciável obra de saneamento, em benefício da população indígena dessas regiões que mesmo fora da época de chuvas se mantinham alagadas.
Um dos justos motivos de orgulho da Société du Madal é a produção, conseguida após metódicas experiências nas estufas, de uma copra branca hoje conhecida e negociada nos mercados da Europa como copra «Plantação Tipo Madal», equivalendo à copra de Ceilão.

(...) No ramo comercial, a «feitoria» da «Madal» em Quelimane, além de funcionar em agência de diversas empresas de navegação, de seguros e de viaturas automóveis, dedica-se a importações e exportações, compra de copra de produção local e moagem de produtos da Colónia para alimentação dos trabalhadores indígenas das plantações.

A ultimar estas breves notas sobre a actividade da Société du Madal na Zambézia, foquemos ainda a questão dos transportes - cuja importância facilmente se conclui ao considerarem-se a grande extensão e dispersão das plantações.
Assim, grande número de estradas ladeiam e cruzam as plantações, delimitando as divisões estabelecidas, ligando as estações agrícolas e drenando as colheitas no interior dos palmares. Os transportes são realizados por carros de bois, camiões, zorras sobre linhas Decauville, e, nos canais e mucurros, por lanchas de pequeno calado, que conduzem os produtos das plantações para os locais de beneficiação, nas estações agrícolas.
Destas para o porto de embarque, Quelimane, são os produtos transportados em lanchas rebocadas por barcos a motor de óleos pesados ou gasolina. A frota empregada neste serviço compõe-se de oito batelões de ferro, sete lanchas de madeira, sete escaleres e quatro barcos a motores.
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