domingo, dezembro 30, 2007

ZAMBEZE: - o gigante



Por épicas aventuras na história narrado,
De longe, agora liberto e rio a preceito
Para nobre tela de pintor apaixonado,
Chega ledo e plácido em amplo leito




De Morrumbala, por serras e vales deslizante,
Logo o Chire aflui, em enlace silencioso,
E nestas rotas mais nédio fica o gigante,
Por canhoneiras e mercadores outrora famoso



Espraiando-se, na savana dança e recria
Ihotas de mistério feitas de areia e canavial,
Onde, quiçá arrebatado pela sagacidade bravia,
Perspectiva a trama de braços do percurso final



Mas margens de Mopeia, e de Luabo em continuação,
Sustenta a cana doce, senão quando tempos de arrepio;
Então, dos limites desavindo, dos pés foge tanto chão,
Mais parecendo que o oceano aqui tomou conta do rio



Ainda na sua Zambézia, ora de frondes guarnecida,
Sedutor coleia e já filhos errantes vai abraçando;
Na magia do entardecer ensaia sorrisos de despedida
Pois no Chinde, tão perto, só deve entrar suspirando





E no ermo Timbué, ilha mor e não esbelta,
Ainda o poeta, em cada verso, ajusta a vírgula,
Eis que o indómito Índico, engolindo o delta,
O poema ronda para ponto final, frenético na gula


César Brandão - 30.11.2005
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terça-feira, novembro 20, 2007

SOPINHO: - outros horizontes?

Abandonando Quelimane em direcção a Macuse, num passado ainda recente nicho vital da Boror, uma das maiores companhias arrendatárias dos extintos prazos da Zambézia, para alguns nem sempre constitui encantamento suficiente desfrutar da exuberante beleza de extensos palmares que se perfilam ao longo dos vários percursos possíveis. Senão, observe-se a alternativa, talvez invulgar mas igualmente sedutora, que estes ousados aventureiros resolveram empreender.



Entretanto, já nas proximidades da barra do Macuse desenvolve-se o povoado de Sopinho, precisamente situado na margem direita do rio Namacurra e junto à foz do mesmo.
Trata-se de local marcado pela ruralidade do meio envolvente, evidenciando pois óbvias carências de infra-estruturas básicas.
A pesca artesanal confere um forte sustentáculo de sobrevivência, mitigando o difícil quotidiano das suas gentes humildes.

Por vezes abalado por águas que se zangam e onde a pobreza naturalmente fere a paisagem, mesmo assim proporciona ao visitante cenários que arrebatam a vista.
E ali, logo na foz do rio, o areal espreita e os horizontes alargam-se, invadidos já pela irresistível maresia do soberbo Índico.

Pressente-se então que os paraísos podem ter periferias diferentes e esta exorbita em aura vadia que há muito transpôs as aringas, congregando mistérios a desafiar os intrépidos.

Margaret, estrela de "rock", quando da sua permanência em Quelimane, no ano em curso, não se eximiu a visitar aquela povoação.

A atracção sentida, muita ou pouca, enforma matéria reservada ao seu círculo de amigos. Todavia, porque testemunho traduzido em suficiente visibilidade, importa relevar o propósito emergente para a realização de um empreendimento turístico, revestindo a natureza de "lodge".

Igualmente se sublinha que a comunidade de pescadores, bem como alguns líderes locais, foram convidados a tomar conhecimento deste plano e a expressar sensibilidades sobre o respectivo impacto no meio.

Resta pois desejar que os ventos soprem de feição, estimulando a concretização da obra.

Força Margaret!


César Brandão - 20.11.2007

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quarta-feira, outubro 24, 2007

MEMORIAL DE QUELIMANE: IV - O Elemento Alegórico

Porventura tocado pelo primor das formas ovais quando a inspiração deambulou pelos labirintos da concha, o artista arquitectou os contornos e lá, no recinto da extinta Feira das Actividades Económicas da Zambézia, destinaram-lhe recanto em chão raso, tendo por companheiro o agreste cacto.

Em noites engalanadas de distantes Agostos fulgiu em distinta alvura, tornando feéricos frutos do mar que mãos esculpiram.

Em 1975, quando o espaço começou a evidenciar os primeiros sinais de mudança, meu irmão José Luís descobriu-lhe a singular graciosidade e a irreverente adolescência apelou ao simulacro do voo planado da águia. Talvez já comprometido por sintomas de nostalgia, o amigo Monteiro não disfarçou um olhar ausente.

Em 2007, nas suas aventuras em Quelimane, Lara Bratcher e Kevin Harvey surpreendem-se com aquela área que continua, afinal, a ser palco de feira... mas agora onde tudo serve para negociar.

Enquanto vagueiam Lara não resiste a saborear a água do coco e, como que por magia, protagoniza um reencontro inesperado: - eis então a bonita jovem sentada no elemento que teimosamente sobreviveu no tempo.

Subtraíram-lhe a fluorescência e a brancura corroeu-se na agrura dos anos mas, que importa... por um momento Lara rejuvenesceu-lhe as formas e inundou-o de colorido!



César Brandão - 22.10.2007



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