sábado, junho 30, 2007

CANTO DA POESIA: - Um leão ladeia

UM LEÃO LADEIA *

Um leão ladeia
as portas do teu ânimo de ferro
Séculos e séculos esbatem
o relevo das garras
nas esferas de pedra
Quem o olha imobiliza-se
vendo-o com uma esfíngica
expressão de antiguidade
Nos globos oculares que a areia corroeu
há mesmo um gladiador espelhado
E nem a juba se acama, dócil
à ideia de que a tua mão acaricia
Um leão ladeia
as portas do teu ânimo de ferro.


* - Poema de O Ritmo do Presságio, um dos livros de Sebastião Alba, pseudónimo de Dinis Albano Carneiro Gonçalves. Quer o trabalho em causa, quer ainda A Noite Dividida e O Limite Diáfano, constituem as obras poéticas de Sebastião Alba com maior visibilidade, emanando das mesmas os poemas seleccionados para integrar a antologia UMA PEDRA AO LADO DA EVIDÊNCIA, publicada pela editora Campo das Letras.

Sebastião Alba nasceu em 1940, na cidade de Braga, onde também acabou por falecer em Outubro de 2000, vítima de atropelamento. Conforme vontade manifestada, repousa em Torre de Dona Chama, localidade situada em Trás-os-Montes.

Entretanto, ainda muito jovem rumou a Moçambique, aí vindo a permanecer grande parte da sua vida. Quando radicado em Quelimane, em 1965 publicou o seu primeiro livro, intitulado Poesias.


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segunda-feira, maio 28, 2007

MEMORIAL DE QUELIMANE: III - Almadia "Iole"

Do poema Nossas Vidas São Os Rios, de Luis G. Urbina:

"Eu tinha uma só ilusão: era um manso
pensamento: o rio que vê próximo o mar
e quisera um instante converter-se em remanso
e dormir à sombra de algum velho palmar. "
(...)
_____________________________

A Baixa Zambézia é vincadamente marcada pelas bacias hidrográficas dos seus principais rios, precisamente Zambeze e Licungo, a cada passo proliferando braços fluviais. Neste contexto, a singular almadia, pequena embarcação construída a partir de um tronco de árvore, sempre desempenhou um papel relevante na pesca artesanal e, não raras vezes, fundamental no transporte ligeiro.

O meu baptismo em viajar de almadia remonta ao período de infância inicialmente vivido na Barra, precisamente uma das estações de elaboração de copra a partir dos palmares circundantes detidos pela Madal, e situada na zona costeira de Micaúne.
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sexta-feira, abril 13, 2007

MEMORIAL DE QUELIMANE: II - ZALALA, utopia renovada

A norte, onde Pebane porfia em ostentar paraísos que as dunas resguardam, sobressalta-se a vista e o pensamento eleva-se sob o brilho estelar, círio da linguagem nocturna dos batuques despertos.
Dialoga-se com o firmamento que galvaniza anseios de aventura e já salpicos de mar agigantam a ousadia para morder confins distantes.
Insaciável e competindo com índicas rebeldias, logo delira o espírito que célere navega na conquista de esplendores selvagens que, lá bem para sul, explodem em “tandos” de luxúria que o Zambeze fecunda.
De permeio sorve-se os bons sinais dos rios coleantes que eternizam presságios de rara beleza, e na fronteira de lânguidas casuarinas, onde o palmar soçobra, eis que Zalala emerge, imponente e irresistível, contagiando os sentidos que se libertam em dança.
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