terça-feira, dezembro 11, 2012

COMUNIDADES DEHONIANAS NA ZAMBÉZIA - uma visita

No "blog" da ALVD - Associação dos Leigos Voluntários Dehonianos, e neste endereço, João José Pereira da Silva Antunes relata-nos uma semana missionária vivenciada no seio das comunidades Dehonianas na Zambézia, sendo o seu testemunho particularmente enriquecido pela reprodução do vídeo a seguir, que evoca momentos dessa experiência.


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sexta-feira, novembro 02, 2012

CHINDE: 100 anos entre o desespero e a esperança

Para quem a vida é madrasta, cada novo amanhã é sempre a esperança de uma existência melhor. É assim que vive o Chinde. Isolada fisicamente, cercada de pesadas dificuldades e abandonada, a pequena vila da foz do Zambeze, está há décadas na espera, uma espera agoniante, perigosamente fatal, onde a própria esperança teme a morte, dada a luta titânica que trava contra as acções da Natureza e do Homem.
  • Maputo, Quinta-Feira, 13 de Setembro de 2012:: Notícias

Chinde está hoje em festa. É o seu 100º aniversário. No longínquo ano de 1912, a povoação de casas tipo palafita erguida na margem direita de um dos braços do extenso delta do Zambeze, ganhava o estatuto de vila. Hoje, centenária, Chinde não pensa no seu progresso mas em como evitar o seu desaparecimento como vila, como povoado ou mesmo como local habitável. 

Localizada no sul da província da Zambézia, a vila do Chinde, sede do distrito de mesmo nome, teve o seu florescimento, tal como hoje a sua morte, sempre ligada ao portentoso rio.

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sábado, junho 30, 2012

AS ILHAS PRIMEIRAS - (Parte III)

(...conclusão)

A última das Ilhas Primeiras, a Epidendron, dista da ilha Casuarina seis quilómetros; os baixos respectivos estão afastados entre si de dois quilómetros. Antigamente, era conhecida pelo nome de ilha Rasa ou das Palmeiras. O seu nome indígena é Maloa. A configuração desta ilha é sensivelmente triangular, medindo um quilómetro de comprimento e novecentos metros de largura máxima. No centro, um pouco para o extremo este, tem uma pequena colina arenosa de cerca de oito metros de altura. O baixo é também de forma irregular, prolongando-se um pouco para oeste; as suas dimensões regulam por três quilómetros e meio de comprimento e dois de largura. Esta ilha é a mais próxima do continente, do qual dista nove quilómetros (Ponta Macalonga).
Vista do mar, a certa distância, a ilha Epidendron mostra-se revestida de denso arvoredo, de cujo centro emerge a torre do novo farol. Este arvoredo, do tipo laurissilva, tem como espécie dominante Diospyros mespiliformis. As árvores desta espécie são ali mais altas e de tronco mais grosso do que as das outras ilhas deste grupo. Segundo parece, a propagação de Diospyros mespiliformis começou por esta ilha, passando a pouco e pouco às outras, como o indica o porte sucessivamente mais baixo que se verifica nas ilhas Casuarina e do Fogo. Os maiores exemplares desta espécie encontram-se na parte mais elevada da ilha e atingem quinze metros de porte e sessenta centímetros de diâmetro à altura do peito. A densidade do laurissilva é de cerca de duzentas e cinquenta árvores por hectare. Nas partes mais cerradas, a escassez de luz dá-nos a ilusão de uma floresta pluviosa das regiões equatoriais. A manta morta do laurissilva oferece apreciável espessura, mostrando ser o povoamento bastante antigo, certamente plurissecular. O crescimento muito lento das espécies Diospyros reforça a hipótese da elevada idade desse povoamento.
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quinta-feira, maio 17, 2012

AS ILHAS PRIMEIRAS - (Parte II)

(...continuação)

A ilha Coroa dista da ilha do Fogo oito quilómetros, mas a distância entre os baixos é um pouco menor, cerca de seis quilómetros. Esta ilha é de forma elíptica, com cerca de seiscentos metros de comprimento e duzentos de largura. Não possui vegetação alguma e semelha uma duna no meio do mar. João Lisboa designou-a por «cabeça sequa» e o comandante Owen por «Crown Sand». O baixo é de forma arredondada, tendo de diâmetro dois quilómetros, aproximadamente. A altura da duna é de seis a nove metros, segundo De Horsey; julgo, porém, que é um pouco mais elevada, uns doze metros. Não sei a que seja devida a falta de vegetação desta ilha. Embora não desembarcasse, por motivo da grande agitação do mar, penso que a ilha Coroa é susceptível de ser fixada e revestida de vegetação artificialmente - e, por conseguinte, defendida da acção erosiva do vento. A ilha Coroa parece não ter designação entre os indígenas. Contudo, vão lá pescadores indígenas à caça das tartarugas.

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terça-feira, maio 08, 2012

AS ILHAS PRIMEIRAS - (Parte I)

Relato (abreviado) de António de Figueiredo Gomes e Sousa, publicado em:
MOÇAMBIQUE - Documentário Trimestral
Nº 76 - Outubro/Novembro/Dezembro - 1953
Páginas 49 a 71

Não raro, uma das facetas mais interessantes das ilhas é a sua flora, composta, por vezes, exclusivamente de plantas oriundas de outras regiões, que as correntes marítimas transportaram no decorrer dos séculos. Foi essa faceta que me levou a visitar as Ilhas Primeiras, certamente o mais curioso grupo de ilhas moçambicanas, por ser o mais afastado da costa.
No dia 5 de Novembro do ano de 1952 embarquei, em Lourenço Marques, no rebocador Revuè, da Beira, o qual seguia para Quelimane, onde fundeou a 9. Naquele porto tomei o rebocador Chaimite, que andava ocupado no serviço de reconstrução dos faróis das ilhas do Fogo e Epidendron. Depois de curta demora no porto de Pebane, para abastecimento de água, o Chaimite soltou rumo para a ilha do Fogo, em frente da qual fundeou no dia 11, à tarde.
O presente trabalho representa unicamente uma simples notícia do aspecto geral das Ilhas Primeiras.

As Ilhas Primeiras são cinco: Silva, Fogo, Coroa, Casuarina e Epidendron, formando uma linha sensivelmente na direcção nordeste-sudoeste.
O nome de Primeiras foi posto, segundo parece, por João de Lisboa, talvez na ocasião da viagem de Vasco da Gama em descobrimento do caminho marítimo para a Índia, de cuja armada foi o piloto principal, e, certamente, por serem as primeiras que encontrou na sua rota ao longo da costa de Moçambique.
As Ilhas Primeiras são desertas. Os seus faróis - do Fogo e de Epidendron - são de iluminação automática e, por tal motivo, não têm faroleiros. De seis em seis meses vai lá um navio levar o combustível, verificando-se nesse momento o seu funcionamento.
Recifes de coral que o mar deixa a descoberto na vazante servem de base a estas ilhas. A parte emersa, ou seja a areia que o mar deposita na preia-mar, ocupa somente uma parte mui restrita da orla norte dos recifes. Ao mesmo tempo que, por um lado, o mar deposita a areia, por outro arrasta-a, de modo que a forma das ilhas está sujeita a constantes alterações. Foi esse o motivo que tornou necessária a construção dos novos faróis.
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segunda-feira, abril 30, 2012

segunda-feira, abril 02, 2012

II - A SOCIÉTÉ DU MADAL - (Fearnley, Bobone & Cie)

(...conclusão)

O problema do gado para trabalho e adubação tem sido vivamente sentido nos palmares zambezianos, (...). A Société du Madal que possuía, em 1913, apenas 250 cabeças conta hoje à volta de 8.000. Um dos seus grandes trabalhos foi a derruba completa da famosa floresta do Zalale, trabalho que ficou concluído em 1935 e satisfez uma das grandes aspirações da empresa. Hoje, onde foi a floresta do Zalale encontra-se uma bela plantação de coqueiros com mais de 50.000 plantas, e o gado tem aí um lugar seguro e limpo do perigo da mosca.

(...) Várias tentativas tem feito a Société du Madal para a introdução de outras culturas nas suas terras. Algumas dessas tentativas foram dirigidas por técnicos que a empresa expressamente contratou para tal. Os resultados não foram, todavia, encorajadores, e a «Madal» dedicou-se quase exclusivamente à cultura do coqueiro, cujo aperfeiçoamento lhe tem merecido atentos cuidados. Para alguns estudos, designadamente das doenças do coqueiro, contratou especialistas. A escolha dos adubos, quer de origem química quer de natureza vegetal, mereceu-lhe, também, particulares atenções, importando e ensaiando diversos - para concluir que é ainda, afinal, o proveniente dos gados que proporciona mais vantajosos resultados.
Nas plantações, o sistema de distribuição de plantas adoptado é o de rectângulos e equidistâncias de 10 metros. 
O enxugo das terras foi outro problema que a «Madal» teve de resolver, tanto mais que os seus terrenos se acham em regiões baixas e alagadiças, na bacia do Zambeze. Foram abertas extensas valas de drenagem, sobre alguns milhares de quilómetros, com ligação a canais, mucurros e rios próximos. Assim, não só se obteve melhor aproveitamento das terras, como se realizou apreciável obra de saneamento, em benefício da população indígena dessas regiões que mesmo fora da época de chuvas se mantinham alagadas.
Um dos justos motivos de orgulho da Société du Madal é a produção, conseguida após metódicas experiências nas estufas, de uma copra branca hoje conhecida e negociada nos mercados da Europa como copra «Plantação Tipo Madal», equivalendo à copra de Ceilão.

(...) No ramo comercial, a «feitoria» da «Madal» em Quelimane, além de funcionar em agência de diversas empresas de navegação, de seguros e de viaturas automóveis, dedica-se a importações e exportações, compra de copra de produção local e moagem de produtos da Colónia para alimentação dos trabalhadores indígenas das plantações.

A ultimar estas breves notas sobre a actividade da Société du Madal na Zambézia, foquemos ainda a questão dos transportes - cuja importância facilmente se conclui ao considerarem-se a grande extensão e dispersão das plantações.
Assim, grande número de estradas ladeiam e cruzam as plantações, delimitando as divisões estabelecidas, ligando as estações agrícolas e drenando as colheitas no interior dos palmares. Os transportes são realizados por carros de bois, camiões, zorras sobre linhas Decauville, e, nos canais e mucurros, por lanchas de pequeno calado, que conduzem os produtos das plantações para os locais de beneficiação, nas estações agrícolas.
Destas para o porto de embarque, Quelimane, são os produtos transportados em lanchas rebocadas por barcos a motor de óleos pesados ou gasolina. A frota empregada neste serviço compõe-se de oito batelões de ferro, sete lanchas de madeira, sete escaleres e quatro barcos a motores.

quinta-feira, março 22, 2012

I - A SOCIÉTÉ DU MADAL - (Fearnley, Bobone & Cie)

Crónica de João Rodrigues Sequeira, publicada em:
MOÇAMBIQUE - Documentário Trimestral
Nº 38 - Abril/Maio/Junho - 1944
Páginas 61 a 71



A SOCIÉTÉ DU MADAL é uma das grandes empresas zambezianas que têm realizado na Baixa Zambézia, distrito de Quelimane, uma muito notável obra de ocupação económica e de colonização em geral. Formaram-se essas  empresas - ou, como se diz na Zambézia, «as Companhias» - sobre a deliquescência do secular regime dos «prazos». E pode dizer-se que se formaram por um processo de absorção capitalista da pequena propriedade - os «prazos» - se bem que, realmente, o processo tivesse já começado antes delas, com a reunião de vários «prazos» em grande domínio na posse, ou arrendamento, de um só proprietário. Há que reconhecer que tal absorção foi um bem, uma vez que o objectivo capital dos «prazos» - povoamento, fixação de famílias à terra pela exploração agrícola, pequena ou média - falhara em consequência do absenteísmo dos «senhores de prazos». Assim, a Zambézia, onde, por meados do século XVII, se tentara lançar os fundamentos de uma colonização de povoamento, veio a tornar-se, nos finais do século XIX, um exemplo típico de colonização capitalista. Os resultados foram notáveis. A Zambézia acha-se hoje dotada de alguns dos maiores  e mais belos palmares do mundo e foi, até anos recentes, a única região de Moçambique que contava como um real valor económico, sendo hoje ainda um dos mais característicos núcleos da Colónia, pela população, costumes, trabalho e produção.

A Société du Madal estabeleceu-se na Colónia em 1903, montando os seus escritórios na então vila de S. Martinho de Quelimane, na rua que tem hoje o nome de João de Azevedo Coutinho. Instalou-se numa casa que tomou por compra ao conde de Vila Verde, de quem tomou também, por trespasse, o arrendamento dos «prazos» Madal, Tangalane e Cheringone.
Em 1904, a «Madal», como é comummente designada na Zambézia, comprou à Compagnie des Huileries et Savonneries de Moçambique as instalações que esta possuía na actual Rua D. Luiz Filipe e estabeleceu nelas, onde ainda hoje permanece, a sua feitoria. Também, nesse ano, tomou o arrendamento do «prazo» Maindo, por trespasse da firma Correia de Carvalho; e, em 1916, o do «prazo» Inhassunge, de que era arrendatária a firma Ribeiro & Ca, Limitada.
Inicialmente, a razão social era Société du Madal (Gonzaga Bovay & Cie), depois modificada para Société du Madal (Chr. Thams & Cie). Posteriormente, em 1926, adoptou nova designação (Société du Madal - Bobone, Bonnet & Cie), que em 1929, após o falecimento do conde de Bobone e do director geral em África, Theopile Bonnet, passou à actual designação, com a entrada para a firma do cidadão norueguês Thomas Fearnley. A sede social é em Mónaco.

Com os «prazos», cujo arrendamento adquiriu por trespasse, a Société du Madal iniciou a sua exploração agrícola com 70.000 coqueiros. Imprimiu grande desenvolvimento aos palmares, quer nos territórios dos «prazos», cujo arrendamento tomara, quer em novos terrenos que aforou. Assim, o número de palmeiras elevava-se, ao cabo de dez anos, em 1913, a 240.000. Em 1923 era de 500.000, em 1933 de 720.000 e em 1943 de 807.300. Presentemente, atinge cerca de 840.000.
(...) As plantações não ocupam uma área contínua. Distribuem-se pelas áreas da sede do concelho de Quelimane, do posto administrativo de Inhassunge, na margem direita do rio dos Bons Sinais, e do posto administrativo de Micaúne, no concelho do Chinde, margem esquerda do Zambeze. Estão repartidas por vinte e sete estações agrícolas, à testa de cada uma das quais se acha um empregado europeu, português, com um auxiliar, natural de Quelimane, assimilado. Por essas vinte e sete estações distribuem-se trinta e uma estufas para secagem e fabricação da copra, construídas em alvenaria, quarenta e sete bebedouros para gado, com as respectivas bombas, e onze tanques carracicidas. E em cada estação existem habitações dos empregados, várias dependências e armazéns.
De modo geral, todas as plantações foram precedidas de grandes trabalhos de derruba, que mobilizaram enormes contingentes de mão-de-obra indígena, visto como o emprego de gado era, então, impraticável pela abundância da tsé-tsé. Os regulamentos de trabalho indígena que então vigoravam, relacionados ainda com a antiga e tão interessante instituição secular dos «prazos», permitiam um recrutamento fácil e copioso de trabalhadores.
Embora os números que atrás se apresentam traduzam um apreciável e constante desenvolvimento das plantações, é de notar que a actividade da empresa atravessou fases de adversidade, sem as quais o progresso teria sido bem mais acentuado. Assim, por exemplo, a campanha da Grande Guerra exigiu a saída de milhares de trabalhadores que os arrendatários dos «prazos» tinham de fornecer para carregadores. Os trabalhos agrícolas foram reduzidos para um rigoroso mínimo e o restabelecimento da actividade normal, uma vez a campanha terminada, foi longo e difícil.
Em 1930, após anos de instabilidade dos mercados e das cotações, pronuncia-se, até quase o pânico, a queda da cotação da copra. Os palmares zambezianos foram, por isso, profundamente afectados. Trabalhos já em decurso e projectos de ampliação das explorações tiveram de ser suspensos e a actividade das empresas restringiu-se a simples trabalhos de conservação.

(continua...)

sábado, fevereiro 18, 2012

MONTE ERREGO

MONTE ERREGO: - O distrito de Ile, tendo como sede a localidade de Errego, desenvolve-se na zona de transição para as regiões de alta altitude da Zambézia.

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quarta-feira, fevereiro 01, 2012

NAUELA: - o sonho decapitado por despacho

No último trimestre de 1971 tive oportunidade de conhecer Nauela. Na altura o engº agrónomo Frazoa, dirigente da Delegação de Quelimane do então ICM - Instituto dos Cereais de Moçambique, promoveu uma formação prática versando a defesa dos solos agrícolas contra a erosão. As tarefas tiveram a duração de uma semana e decorreram exactamente na envolvência daquela localidade. Assim, acompanhando o colega Guimarães, responsável pelo Posto de Recepção do ICM em Mocuba, pude participar na formação em apreço que primou por um assinalável aperfeiçoamento de conhecimentos naquele domínio, garantindo-me mesmo a sua abordagem, como tema complementar e enriquecedor, no relatório de estágio obrigatório relativo ao curso que finalizara entretanto.

Então, inexorável, o tempo acrescentara já uma dúzia de anos à apaixonante mas dramática gesta do cultivo do cafezeiro naquela região que, ao longo dos anos 50, sustentou um ciclo de vertiginosa expansão daquela rubiácea, anteriormente referenciada como cultura sem tradição em Moçambique, confinada a áreas marginais e com produções insignificantes, pese a particular visibilidade do "Coffea racemosa", espécie espontânea nas áreas arenosas a sul do Save.

Efectivamente, a partir de 1950 o marasmo reinante foi fortemente beliscado pelo inconformismo humano e nas alturas da Zambézia, onde o planalto se desfralda desafiante, a 700-800 metros de altitude abençoado por condições ambientais de eleição, despertaram sonhos arquitectando outros horizontes. Localidades como Gurué, Tacuane e Milange tornaram-se palco fértil para destemidos pioneiros, mas foi em Nauela que os mais intrépidos, refinando a audácia por veredas sinuosas, procuraram o rumo da perfeição. E em menos de 10 anos, sob o aconchego da serrania, a esperança de alguns emergiu pujante na generosa natureza, tendo como bandeira  a espécie "Coffea arabica", aprimorada com paixão nas courelas da Boa Esperança, exploração de Adrião de Faria Gonçalves, considerado o principal pioneiro da espécie na região.
Nauela, enriquecida por uma panorâmica esplendorosa, trajou então cenários de deleite que cativaram a vista e enamoraram a alma. Tarquínio Hall, em desvelado artigo, ajuda-nos a compreender aquela época.


  • Do trabalho intitulado NAUELA E A CULTURA DO CAFÉ «ARÁBICA» OU «ROBUSTA», na época publicado no Notícias, de Lourenço Marques, fragmento das considerações do agricultor da região Sr. Tarquínio Hall.

Nauela é o varandim da Alta Zambézia. Fincada nos píncaros da serra Inago, nada em redor impede a vista de se alargar na linha do horizonte senão a mancha vaga dos picos Namuli, a muitas léguas de distância. E só em dias de céu varrido; porque basta um farrapo de nuvem ou a mais ténue neblina para apagar a cabeça do monstro.


Estamos a perto de mil metros acima do nível do mar, com o corpo aliviado dum peso que desconhecíamos. Há uma força estranha que quer suspender-nos no espaço. E quanto mais essa força guinda, mais leve e fresco se apresenta o cérebro, mais ágil o raciocínio e mais nítida a imaginação. Apenas um zumbido antipático insensibiliza os tímpanos ao mundo dos sons. Mas não é a cantilena das cigarras nem o gorjeio da passarada que neste momento interessa tanto: o que prende e surpreende é a configuração do planalto que alastra na tangência dos raios visuais; o gume dos picos que circundam as alturas - o seu perfil amórfico, disforme, a evoluir em planos sequentes na linha quebrada das cumieiras; a confusão de traços oblíquos, de riscos horizontais (bordados, torcidos, mordidos) que decalcam o desenho em que se desenvolve a panorâmica.

Que cenário maravilhoso! Perto, tudo são ondulações irregulares que o cafeeiro sobe e desce em socalcos simétricos que as copas escondem e a erosão não vence; só longe figuram as primeiras manchas florestais e mais longe ainda a silhueta desbotada doutras tantas serranias. E que clima admirável para o colono europeu se dar todo inteiro ao torrão criamoso! É que faz frio neste planalto tinto de verde, com casas novas a branquejar nas rendas das aleurites e manadas preguiçosas mordiscando a relva fina: nos meses de Junho a Agosto há dias em que o mercúrio quase ronda o zero centígrado.

Aqui, sim, é verdadeira montanha, com ar fresco nos pulmões, nos poros, no próprio sangue! Às vezes os olhos cegam no encontro inesperado de verdadeiras chagas de luz; e, por instantes, regressam ao pensamento voltado à Pátria-Mãe imagens que havíamos esquecido no turbilhão de uma vida e que a lei da semelhança só agora aproximou: o Marão, com seus anfiteatros e seus vales sempre verdes; a Estrela e as suas neves; a Beira Alta, com suas serras e as suas aguarelas tão vivas como se tivessem saído agora mesmo da pena de Silva Gayo. Era tudo, afinal. Aos planaltos de Nauela apenas faltava o ornato dos monstros megalíticos que trilham a terra desnuda, sobem da Lagoa Comprida às Penhas Douradas e rebolam na vertente até junto de Manteigas; e ainda a azinheira, o pinheiro débil, atrofiado pela neve, a urze, o tojo e a giesta. Mas a configuração do solo era idêntica: uma massa imensa, enrugada, amarfanhada pelas mãos do Criador. Sim, aquelas terras falam da Metrópole tão eloquentemente que quase lhes escutamos a voz. Daí a profunda nostalgia que se nos apoderou da alma quando o pensamento iniciou o desbobinar retrospectivo do filme da saudade.

FONTE : - Boletim Geral do Ultramar, Nº 370, Vol. XXXII, 1956

Nos primórdios de 1959, nas zonas de montanha, o cultivo do cafeeiro em Moçambique rondava já uma área próxima dos 5.000 hectares, incidindo maioritáriamente na Alta Zambézia.
Nesse mesmo ano um talhante despacho do então Ministro do Ultramar determinou a extinção da Delegação da Junta de Exportação do Café, proclamando: - "Moçambique não podia produzir café, só chá, e Angola não podia produzir chá, só café".

segunda-feira, janeiro 30, 2012

ARQUIPÉLAGO DAS PRIMEIRAS: - Ilha do Fogo

ILHA DO FOGO: - Ao longo da costa zambeziana, para norte de Pebane, localiza-se esta ilha que com mais outras 4 - Silva, Coroa, Casuarina e Epidendron, formam o arquipélago das Ilhas Primeiras.
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